EIXOS TEMÁTICOS

1. Agricultura Urbana e Periurbana
Esse eixo se propõe aprofundar e ampliar a reflexão sobre a construção da Agroecologia nos territórios urbanos (compreendendo realidades metropolitanas e de pequenos e médios municípios), enfocando a pluralidade de experiências existentes e articulando abordagens conceituais e teóricas sobre a urbanização da sociedade, a relação campo - cidade, e sobre a organização de sistemas alimentares mais democráticos e sustentáveis. Busca também contribuir para a identificação e conexão entre experiências produtivas, de gestão de recursos ambientais, de assessoria técnica, de comunicação, de pesquisa e ensino, de planejamento urbano, assim como os processos de formulação de políticas públicas, de organização social e formação de redes que ao mesmo tempo que constroem a Agroecologia e a soberania alimentar nos territórios, enfrentam diversos conflitos e violências cotidianos e extrapolam a produção de alimentos. Particularmente, pretende-se abordar, nessas experiências, o protagonismo das mulheres, o potencial transformador das juventudes e a centralidade das culturas negras e indígenas na configuração de práticas de cuidado, de solidariedade, reciprocidade e autonomia nos processos econômicos e de estratégias de produção e gestão coletiva dos bens comuns tão necessários à reprodução da vida e ao bem viver.

2. Agrotóxicos e Transgênicos
O eixo temático Agrotóxicos e Transgênicos é um espaço para apresentação de dados/informações, discussão e debate em torno da temática dos agrotóxicos, transgênicos e das novas biotecnologias. Esperamos a submissão de trabalhos que relacionem o uso de agrotóxicos com impactos socioambientais, tais como: contaminação da água, do ar e do solo; redução da presença de insetos benéficos, como polinizadores (especialmente, abelhas) e de inimigos naturais de insetos indesejáveis, o surgimento de populações de plantas e insetos resistentes aos agroquímicos; relacionados aos impactos dos agrotóxicos sobre a saúde da população de forma geral, causando intoxicações agudas e crônicas, levando ao desenvolvimento de uma diversidade de enfermidades, destacadamente vários tipos de câncer. Incluímos nesse bojo, os impactos relacionados às novas biotecnologias, como a Cisgenia. Nesse sentido, esperamos temáticas como: populações atingidas por agrotóxicos (povos indígenas, comunidades quilombolas, populações tradicionais, camponeses, populações urbanas); inviabilização da agricultura orgânica e agroecológica pelo uso de agrotóxicos e transgênicos; políticas públicas relacionadas aos agrotóxicos e transgênicos; aspectos jurídicos relacionados aos agrotóxicos e transgênicos; estratégias de comunicação no embate aos agrotóxicos e transgênicos; impactos ambientais envolvendo alterações em bioindicadores em áreas de lavouras; questões relacionadas à produção científica na temática agrotóxicos e transgênicos.

3. Biodiversidade e Bens Comuns dos Agricultores, Povos e Comunidades Tradicionais
Este eixo temático busca se constituir como um espaço de diálogo, intercâmbio e produção de conhecimentos relacionados à biodiversidade, considerando suas múltiplas interfaces com a agroecologia. O enfoque adotado dedicará especial atenção aos processos socioculturais e biológicos envolvidos na promoção da biodiversidade relacionada à agricultura, à saúde e à alimentação e para o importante papel dos povos indígenas, camponeses e camponesas, agricultores e agricultoras familiares e povos e comunidades tradicionais na geração e manejo sustentável da diversidade biocultural. A biodiversidade é reconhecida nesse espaço de discussão como um bem comum dos povos, que carrega em si ancestralidade, conhecimento, trabalho e cultura, elemento fundamental na garantia da soberania e da segurança alimentar e nutricional. A preservação deste patrimônio ao longo das gerações tem sido viabilizada, em grande medida, pelo trabalho desenvolvido pelos guardiões e guardiãs da biodiversidade, em seu permanente esforço de manutenção, adaptação e enriquecimento tanto da diversidade biológica dos agroecossistemas como dos saberes a ela associados. Chama-se atenção, além disso, no cenário contemporâneo, para os diferentes fatores que afetam, negativamente, a conservação, manejo e livre uso da biodiversidade decorrentes do avanço do agronegócio, dos grandes projetos de infraestrutura e da implantação de marcos regulatórios e mecanismos de proteção da propriedade intelectual que restringem os direitos dos agricultores e povos e comunidades tradicionais. Diversos conflitos tem sido causados, também, por perspectivas protecionistas que, baseadas em supostas dicotomias entre “natureza e cultura”, “conservação e manejo”, “preservar e habitar”, acabam por restringir, de diferentes maneiras, as relações de coprodução estabelecidas pelos grupos sociais com seus territórios. Serão acolhidos neste eixo trabalhos científicos e relatos de experiências que tenham como foco: (i) identificação e valorização da biodiversidade manejada pelos povos indígenas, camponeses e camponesas, agricultores e agricultoras familiares e povos e comunidades tradicionais; (ii) estudo e sistematização de práticas e conhecimentos relacionados à conservação, resgate e manejo da biodiversidade em diferentes contextos ecológicos e sociais incluindo: sementes e mudas; raças de animais; plantas medicinais; plantas alimentícias não convencionais (PANCs), entre outras; (iii) desafios da integração entre conservação in situ, on farm e ex situ; (iv) sistemas agrícolas tradicionais e manejo da biodiversidade ligada à agricultura, à saúde e à alimentação nos diferentes biomas; (v) processos de erosão genética e perda social e cultural de conhecimentos e práticas relacionados à biodiversidade; (vi) biodiversidade, direitos dos agricultores e agricultoras e mecanismos de proteção da propriedade intelectual; (vii) desafios relacionados ao acesso e repartição de benefícios associados à biodiversidade; (viii) ameaças ao livre uso da biodiversidade em âmbito territorial, nacional e global; (ix) biodiversidade, áreas protegidas e direitos territoriais; (x) relações ecológicas, sociais, econômicas e culturais estabelecidas, em diferentes contextos, entre biodiversidade, mercados e alimentação; (xi) biodiversidade, alimentação nutrição e saúde; (xii) biodiversidade, cultura, religiosidade e arte; (xiii) transdisciplinaridade e participação social na pesquisa relacionada à biodiversidade.


4. Campesinato e Soberania Alimentar
Este eixo reconhece o campesinato, em suas diversas expressões, como protagonista de diferentes estratégias para garantir a segurança e soberania alimentar e nutricional (SSAN) no Brasil e no mundo. Assim interessa-nos resumos que visibilizem, descrevam, sistematizem e analisem experiências organizativas e políticas relacionadas à produção, circulação e consumo de alimentos saudáveis, no campo e na cidade. Interessa-nos ainda que elas contribuam para o aprofundamento de análises sobre políticas públicas (como PAA e PNAE) para a garantia da SSAN no Brasil, lançando olhar acurado sobre as potencialidades e limites de acesso do campesinato as mesmas, na atual conjuntura. É fundamental que nas diversas expressões campesinas, busquemos compreender o lugar e o papel das mulheres e das juventudes, para garantia da SSAN.

5. Comunicação Popular e Agroecologia
A comunicação popular feita nos territórios nordestinos é uma das inspirações para os processos tecidos em torno da Agroecologia. E será no nordeste que, pela primeira vez, no Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) serão acolhidos trabalhos acerca da comunicação enquanto constituidora de processos cidadãos. Este eixo temático pretende reunir debates e relatos de experiência que tragam à tona práticas e processos comunicativos abertos e participativos, impregnados da intencionalidade educativa e de força para gerar ou alimentar processos de transformação social. Serão recebidos trabalhos que abordem o direito à comunicação na perspectiva da construção do conhecimento agroecológico; dos usos e apropriações críticos dos distintos meios e estratégias comunicacionais pelos sujeitos; da gestão da comunicação em processos e projetos comunitários, populares e alternativos que tenham a Agroecologia como fio condutor; da educomunicação em rede; bem como reflexões envolvendo as interações sociais e as dinâmicas de poder a elas relacionadas.

6. Construção do Conhecimento Agroecológico e Dinâmicas Comunitárias
Com este tema, busca-se ampliar o debate sobre as diferentes abordagens (teórico-metodológicas e políticas) da construção do conhecimento agroecológico contextualizado, em um processo de discussão, análise e apresentação de experiências, marcos conceituais e metodológicos que privilegiem o diálogo de saberes. Os resumos devem privilegiar o diálogo entre as dimensões teóricas da construção do conhecimento agroecológico e as dimensões empíricas (construção e diálogo de experiências concretas no campo da Agroecologia). Serão acolhidos trabalhos que tratem da construção de conhecimento agroecológico e das dinâmicas comunitárias em diferentes territórios rurais; experiências políticas e de redes para a promoção da Agroecologia; processos metodológicos que incorporem o diálogo de saberes nos processos de transição agroecológica e; ensaios teóricos que tratem da cosmologia camponesa e dos povos e comunidades tradicionais e sua relação com a Agroecologia. Dentre as dinâmicas comunitárias trabalhos que tratam do turismo de base comunitárias serão aceitos.

7. Cultura Popular, Arte e Agroecologia
A cultura popular e a arte, além de lema do XI CBA, darão sentido e movimento ao congresso. Esses temas pela primeira vez serão tratados eixo temático, que terá como foco refletir e aprofundar sobre a sua contribuição para as experiências agroecológicas. Entendemos que a cultura popular, a arte e a Agroecologia se encontram numa trama invisível e complexa de relações, simbologias e ritos. Tal trama está expressa na seleção da semente até o alimento que vai à mesa, nos festejos de plantio, colheita e fé, expressões artísticas, artesanatos e manifestações populares que definem a identidade de um povo. Receberemos nesse eixo temático estudos que abordem essas múltiplas relações, tais como: a cultura popular associada a processos educativos, iniciativas de reconhecimento e reafirmação da matriz africana e indígena, expressões artísticas e populares, festividades, artesanatos, práticas religiosas, musicalidades, entre outras.

8. Desertificação, Água e Resiliência Socioecológica às Mudanças Climáticas e Outros Estresses
Este eixo temático perpassa ao debate dos impactos socioeconômicos, adaptações e resiliência dos agroecossistemas frente aos processos de degradação ambiental e mudanças climáticas. Questões como água em suas interações nos agroecossistemas e implicações na sociedade, desertificação, tecnologias sociais, resiliências socioecológicas e dinâmicas socioeconômicas na agricultura familiar, convivência com o semiárido, restauração ambiental e produtiva, além das práticas agroecológicas de promoção da sustentabilidade.

9. Economia dos Sistemas Agroalimentares de Base Agroecológica
Tem crescido internacionalmente a consciência de que os impérios agroalimentares, formados majoritariamente por empresas produtoras de insumos e agrotóxicos, são promotores de exclusão, de impactos ambientais e de danos à saúde humana, reforçando o capitalismo como único sistema econômico vigente e pouco contribuindo para a diminuição dos problemas de insegurança alimentar da população mundial. Por outro lado, agricultoras e agricultores de base agroecológica do mundo inteiro vêm demonstrando o quanto é possível pensarmos em estratégias coletivas, que, para além de promover sua inclusão socioeconômica, permitem algumas rupturas com os sistemas econômicos capitalistas, questionando o “des-envolvimento” como estratégia que esmaga sua autonomia que se traduz em modos de vida sustentáveis. Olhar para estas experiências, nos permite entender que não podemos reduzi-las ao componente do mercado, pois são diversas e complexas incluindo diferentes elementos de reciprocidade, a exemplo das trocas, do autoconsumo, dos circuitos curtos de comercialização, das feiras, da articulação de redes de cooperação nos territórios, dos fundos rotativos solidários, entre tantas outras estratégias. A economia ecológica, a economia solidária, e a Agroecologia nos ajudam a analisar os sentidos dessas experiências contribuindo para que possamos melhor compreender a economia dos sistemas agroalimentares de base agroecológica, percebendo-as como uma estratégia poderosa de enfrentamento da crise alimentar mundial.

10. Educação em Agroecologia
Este eixo temático visa refletir trabalhos nos seguintes temas: Educação do Campo; Educação Popular; Educação Ambiental; Indissociabilidade entre extensão, ensino e pesquisa; Movimento Estudantil na construção da Agroecologia; interdisciplinaridade; Epistemologia da Agroecologia; Experiência dos Núcleos de Agroecologia; diálogo de saberes; experiências curriculares de educação em Agroecologia.

11. Juventudes e Agroecologia
Fortalecer e visibilizar os debates em torno das relações entre juventudes e Agroecologia, sujeitos políticos compreendidos aqui em toda sua pluralidade e diversidade. As juventudes não se constituem apenas como um projeto de futuro, é preciso reconhecer o protagonismo e potencial transformador das juventudes do campo, da cidade, das águas e das florestas na construção de um projeto agroecológico, feminista, colorido e popular. Este protagonismo se manifesta nas experiências produtivas, de pesquisa, formação, comunicação, mobilização e organização realizadas pelas juventudes. É fundamental dar visibilidade a estas experiências e às pautas que elas trazem à tona (a exemplo da sexualidade, da cultura, da educação contextualizada, etc), não como demandas particulares de jovens, mas como questões a serem enfrentadas pelo conjunto do movimento agroecológico e pela sociedade.

12. Manejo de Agroecossistemas
No eixo temático de Manejo de Agroecossistemas pretende-se, a partir das experiências concretas, debater alternativas de manejo agroecológico que dialoguem com diferentes desenhos dos agroecossistemas e tendências como a agricultura sintrópica, biodinâmica, orgânica, permacultura e sistemas agroflorestais biodiversos. A criação agroecológica de animais, o manejo agroecológico de pastagens e de sistemas integrados, manejo ecológico dos solos, de pragas e de doenças. Técnicas de bioconstrução e saneamento rural. Uso de técnicas e tecnologias agroecológicas como homeopatia, bioinsumos, sementes e raças crioulas e máquinas para pequenas áreas. Indicadores de sustentabilidade, metodologias para avaliação de resiliência e de restauração ecológica, entre outras.

13. Mulheres, Feminismos e Agroecologia
Pretende fortalecer e visibilizar os debates em torno das relações entre Mulheres, Feminismos e Agroecologia, que se expressam na construção da Agroecologia aqui compreendida como ciência , movimento e prática, a partir das experiências das mulheres rurais e urbanas, em suas identidades de gênero, raça, classe e etnia, que conformam diferentes opressões e violências em seus cotidianos e práticas agroecológicas no Brasil e no mundo. Interessa-nos compreender as suas contribuições para a construção do conhecimento da Agroecologia, nos modelos agroalimentares, na segurança e soberania alimentar, a partir das práticas de solidariedade e reciprocidade nos processos econômicos e nas estratégias de resistência em defesa dos bens comuns.

14. Políticas Públicas e Agroecologia
Nas últimas décadas os governos brasileiros, em parceria com a sociedade civil, desenharam uma série de políticas públicas e instrumentos a favor da Agroecologia como alternativa aos sistemas agrícolas convencionais, tanto na escala federal, estadual como municipal. Estudos recentes indicam que a institucionalização destas políticas e a atribuição efetiva de recursos específicos constituem dos grandes desafios a serem enfrentados e, ainda mais, depois do recente desmonte de programas e politicas a favor dessas iniciativas. Se espera neste grupo de trabalho analisar as contribuições, desafios e limitações na implementação de ações a favor da Agroecologia em realidades e contextos distintos. Tratara-se também de aprofundar a reflexão sobre novos dispositivos, arranjos institucionais e referenciais que favoreçam a construção, institucionalização e implementação operacional de instrumentos que promovam sistemas sustentáveis e inclusivos para a produção de alimentos saudáveis.

15. Saúde e Agroecologia
Esse eixo temático pretende proporcionar o diálogo entre trabalhos e experiências que contribuem na formulação das conexões entre Saúde e Agroecologia, compreendendo a transversalidade dos temas, em suas múltiplas dimensões e escalas. Reuniremos estudos, pesquisas e relatos que articulem os temas Saúde e Agroecologia, especialmente a partir de experiências agroecológicas, sejam elas relacionadas: à segurança e soberania alimentar e nutricional; à práticas de cuidado em saúde e saúde popular; à saúde do/a trabalhador/a; ao saneamento; à saúde de agroecossistemas; à saúde de biomas e do planeta; à políticas públicas; à experiências pedagógicas onde Agroecologia e saúde são trabalhadas em conjunto e; construções teóricas de interface entre as duas grandes áreas ou entre os campos científicos de Agroecologia e saúde coletiva.

16. Terra, Território e Ancestralidade
Compreende os processos de construção do conhecimento agroecológico relacionados a terra, território, ancestralidade e justiças ambientais. Reunindo estudos, pesquisas e relatos que articulem os temas a partir de experiências como: práticas agroecológicas e a sabedoria ancestral dos povos tradicionais, quilombolas, indígenas, povos de terreiros; a historicidade das lutas pelo acesso à terra e a reforma agrária popular; disputas por territorialidades, bem como os conflitos territoriais; a justiça ambiental em processos de lutas contra hegemônicas; proteção e diversidade dos territórios, e seus bens comuns; Agroecologia e ancestralidade; alimento e o sagrado.

Endereço: Universidade Federal de Sergipe - Campus São Cristóvão